A dor de viver um dia histórico

Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto.

Compartilhe

Por Isabela Melo

Desde pequena o meu sonho era viver em uma época que marcasse a História. Amava os livros e as aulas que detalhavam períodos marcantes da humanidade e me fascinava pensar que um dia eu poderia fazer parte de um momento tal qual os das páginas que folheava.

Na adolescência e início da vida adulta, outros encantos faziam a minha cabeça e a rotina do dia a dia não deixava espaço para me imaginar vivendo o que um dia foi sonho. Morar em Goiás, terra de gente pacata, também deixava esse desejo cada vez mais distante.

Mas, quem nasce com alma de jornalista encontra seu caminho independente das circunstâncias e desde 2014, quando me sentei pela primeira vez para assistir uma aula de jornalismo na faculdade, o anseio de fazer parte de algo muito maior voltou com força. Agora, eu tinha meios para ajudar a construir a História.

Ali, naquela cadeira, aprendi a importância de um jornalismo sério, verdadeiro e de serviço. Eu sabia que meu dever, de certa forma, era estar ao dispor da população. Minha meta era estar preparada para falar a verdade quando tudo fosse fake news, mas nada, em nenhum momento me preparou para lidar com o que vi neste dia 08 de janeiro de 2023.

Na verdade, acho que nem eu ou meus colegas jornalistas estavam preparados para ver o que aconteceria no Brasil a partir de 2018. Aos trancos e barrancos vencemos um desgoverno e uma pandemia achando que isso seria o pior e que em outubro de 2022 estaríamos livres de tamanho desastre. Eu mesma respirei aliviada quando a contagem de votos virou em outubro passado.

O que eu não sabia era que enquanto o extremismo estava no poder a situação ainda era controlável de certa maneira. Mas foi de outubro para cá que eles mostraram quem são de verdade e a maldade escondida por baixo das camisas verde e amarelas. Quando eu pensava em viver um momento histórico, eu não me atinei que poderia ser tão doloroso.

Mesmo acompanhando de longe e postando cada atualização meu coração se contorcia ao ver flagrantes de verdadeiro terrorismo no Brasil. Mesmo a apenas 190 quilômetros de distância, tais cenas pareciam tão distantes, possíveis só em outros países, não aqui. Me doeu ver manifestantes valendo-se do seu direito à democracia para instaurar um cenário de guerra.

Nunca pensei que fazer parte de um momento histórico poderia ser tão doído. Mas hoje, eu vivi para ver a História sendo feita e escrevi um pequeno parágrafo dela. Vivi para entregar aos leitores desse site notícias reais sobre a baderna que se instaurou na sede da democracia brasileira. Que honra e que peso já que essa página estará para sempre manchada. Manchada pela intolerância, pelo ódio, pelo desrespeito. Cada cadeira quebrada, cada porta arrancada, cada vidro despedaçado e cada bandeira carregada de maneira vã compõe um capítulo desse extenso livro.

Como jornalista e cidadã espero que a Justiça se empenhe em dar um desfecho digno para os milhões de brasileiros vítimas dessa barbárie sem tamanho. Que esse novo governo honre os brasileiros que lamentaram essas cenas de horror. Que os jornalistas que estavam presentes em Brasília continuem entregando um trabalho tão íntegro. Que dia triste. Que dia para ser grata por ser jornalista. Que dia histórico. Mas que esse dia não se repita.