Mabel errou na dose, mas acertou ao lembrar Nion

Mabel errou na dose, mas acertou ao lembrar NionFoto: reprodução

Compartilhe

Mabel errou na dose, mas acertou ao lembrar Nion. O vídeo do prefeito Sandro Mabel que viralizou neste domingo (23/2) desagradou os formadores de opinião da cidade. Na gravação, que foi ao ar nas próprias redes sociais do prefeito, ele chama a atenção de um comerciante por haver lixo jogado nas proximidades de sua distribuidora.

Mabel tem gravado vídeos assim e conquistado muitas visualizações e apoio, a exemplo de quando flagrou um morador jogando um sofá no meio da rua. A postagem rendeu quase 9 milhões de visualizações.

Até então, as postagens do prefeito vinham recebendo mais aplausos do que críticas. Mas onde ele errou para receber tantas críticas nos comentários e na imprensa? Certamente, o primeiro ponto foi o tom, a dose de agressividade. Depois, a ideia de que apenas “puxar a orelha” resolve tudo. Não é bem assim! Educar uma população adulta é missão para Tom Cruise.

Outro ponto criticado pelos formadores de opinião: ele falaria assim com pessoas das classes A e B? Agora ele é o xerife da cidade? Vai fechar, vai prender? É fiscal? Criou a taxa do lixo e agora vem ameaçar? Essas foram as principais queixas de quem se incomodou com o tom do vídeo.

No mundo político, ninguém apenas erra ou acerta. Mabel tem sua dose de acerto nessas “broncas” que vem dando. Está certo que elas fogem de qualquer protocolo clássico de comunicação, pois reina no imaginário coletivo que a população é um “cliente” que sempre tem razão. Chamar a atenção ou colocar a culpa de qualquer coisa no munícipe já é considerada uma agressão sem precedentes nesse protocolo. Afinal, o poder público precisa atender a todos, o tempo todo e com qualidade.

Mas onde fica o direito do contribuinte que paga para ter a cidade limpa e vê outro contribuinte despejando lixo nas ruas?

É aí que Mabel acertou. Ele teve coragem de tocar em uma ferida que ninguém havia tocado. Fez lembrar o ex-prefeito Nion Albernaz, um dos poucos que tiveram coragem de dar broncas na população. Ele chegou a ser chamado por uma criança que quebrava os galhos de uma árvore de “Nion zoiúdo” – porque Nion via tudo. Era professor e usava sua autoridade para isso. Cuidava das praças com flores como se fossem suas. E eram, tanto que a cidade virou a “Goiânia das Flores”. Quem viveu essa época se lembra.

E Mabel? Pode virar o novo “xerife ou fiscal da limpeza”? Não, porque tem outros problemas complexos para resolver. Mas alguém precisa assumir esse papel que garantiu sucesso nas redes e perplexidade de outros . Seja os órgãos ambientais, a Guarda Civil Metropolitana (GCM) ou o órgão responsável pela fiscalização urbana. E não apenas de forma educativa, mas também punitiva. No Japão, os próprios moradores são fiscais e chamam a atenção de turistas “porquinhos”. Lá, não se pode comer na rua para evitar sujeira.

Fazendo justiça, em todas as administrações o esforço da Prefeitura sempre foi gigante para limpar a cidade. Mas a atual gestão herdou uma grande quantidade de lixo e dificuldades contratuais. Mabel tem percorrido os bairros com máquinas e equipes, mas nada parece barrar a cultura do descarte irregular. A Prefeitura limpa em um dia, e no outro já há uma nova montanha de lixo.

Mabel errou no tom de voz, nas palavras, nos gestos – na comunicação verbal e não verbal. Mas acertou ao dar um choque de realidade. Vamos parar de sujar a cidade! Ah, e de abandonar animais também!

Por Elizeth Araújo

Leia também: Senador Canedo abre inscrições para 384 apartamentos