A vereadora mais votada da história de Goiânia, Aava Santiago (PSDB), tem ganhado projeção nacional por unir ativismo nas redes sociais, atuação parlamentar e liderança evangélica. Em entrevista ao programa DR com Demori, Aava falou sobre os caminhos que a levaram a se tornar uma referência no debate público, enfrentando temas como direitos das mulheres, violência de gênero, desinformação e o avanço da extrema direita nas igrejas brasileiras.
“Eu sou nascida e criada na Assembleia de Deus e é claro que as contradições e a instrumentalização da Bíblia são tão milenares quanto o próprio Evangelho”, afirmou Aava, ao abordar a crescente aliança entre setores religiosos e projetos autoritários.
De acordo com a vereadora, o que é novo no cenário atual é a escala dessa instrumentalização:
“A novidade é a instrumentalização da fé em escala industrial para a manutenção e a hegemonia de um projeto de poder de extermínio de pessoas — de categorias que a Bíblia marcadamente defende. […] Como é que pode o Evangelho que nos ensina a estar do lado do estrangeiro, do órfão, da viúva, do pobre, do oprimido, de quem está preso, se tornar justamente a ferramenta distorcidamente daqueles que nos perseguem?”, questiona
A vereadora vê esse movimento como parte de uma transformação profunda dentro do universo evangélico, impulsionada por fatores históricos e políticos. Ela lembrou que setores progressistas também alimentaram o preconceito contra evangélicos, especialmente os que vivem nas periferias, são negros ou mulheres. “A crítica ao crente era só um verniz que não ia até a segunda página. Era um preconceito elitista.”
Críticas
Aava não poupou críticas ao bolsonarismo e a lideranças evangélicas. Para ela, houve concessões políticas equivocadas, feitas a “magnatas da fé”, que posteriormente usaram o poder obtido para atacar a esquerda.
“Essa gente que ficou multimilionária nos governos Lula, depois pegou todo esse aparato que foi estruturado dessa forma, com concessão de TV, com faculdade, e transformou esse aparato inteiro em ferramentas de ataque à democracia e ataque aos direitos humanos […] Eles criaram uma bolsolatria, eu lancei até um movimento lá em Goiânia, bolsolatria é pecado, porque é uma nova fé, é o bolsonarismo evangélico”.
A ruptura entre lideranças e fiéis, conforme ela, ficou evidente nas eleições de 2024.
“Os crentes mais radicalizados, mais bolsonarizados, começaram a ficar grilados com os seus pastores e migraram para os candidatos do Bolsonaro, em vez de apoiar o candidato do pastor. E aí isso gerou uma crise de liderança nas igrejas. […] Eu disse ao meu pastor: ‘o Bolsonaro é o pastor das suas ovelhas, não o senhor’”, conforme relatou.
Mulheres
Além disso, a parlamentar também apontou que o principal drama enfrentado pelas mulheres no Brasil é a desumanização. Conforme ela, o pressuposto é de que mulher não é gente.
“Vem desse pressuposto a disposição sobre os nossos corpos, vem desse pressuposto desprezar o nosso consentimento, vem desse pressuposto o nosso empobrecimento. Se a gente é desumanizada, nada que alcance a plenitude da humanidade nos pertence e nos é devido”.
Ela defende que a sociedade encare os crimes contra mulheres não apenas como casos de segurança pública, mas como consequência de um processo cultural profundo.
Além disso, nas redes sociais, Aava vem tentando disputar esse espaço com uma linguagem direta e emocional, alcançando um público além de suas “bolhas” políticas.
“A gente vai ter que amplificar o alcance das nossas parcerias. Se a gente não abrir mão do nosso tribunal de virtudes para chegar mais longe, a gente vai ficar andando em círculos.”
Agência Brasil
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