O leite “inflama o corpo”? Essa ideia tem ganhado espaço nas redes sociais com discursos de influenciadores ligados à saúde e à alimentação. Mas, apesar da popularidade do argumento, a ciência conta outra história — mais complexa e menos sensacionalista.
Segundo estudos clínicos, não há evidências robustas de que o leite cause inflamação generalizada em pessoas saudáveis. Na verdade, pesquisas apontam que o consumo moderado de leite e derivados não está associado ao aumento de marcadores inflamatórios em adultos sem condições médicas específicas.
Isso não significa que o leite seja inofensivo para todos. Pessoas com intolerância à lactose, alergia à proteína do leite ou doenças como síndrome do intestino irritável podem sim apresentar desconfortos ou reações inflamatórias localizadas. Casos assim, no entanto, não representam a maioria da população.
Outro argumento comum nas redes é que “os humanos são os únicos animais que bebem leite de outras espécies na vida adulta” — o que, para alguns, seria um indicativo de que esse hábito é antinatural. A afirmação é verdadeira com ressalvas: é fato que o ser humano é o único animal que consome regularmente leite de outra espécie depois do desmame. Mas isso não o torna necessariamente “errado” do ponto de vista biológico. Trata-se de uma adaptação evolutiva. A capacidade de digerir lactose na idade adulta — graças à enzima lactase — surgiu em populações que domesticaram animais leiteiros.
Outros animais até podem consumir leite se ele estiver disponível, como ocorre com gatos e ursos em cativeiro, mas isso não é comum na natureza.
Vilão ou herói?
Por fim, vale destacar que o leite não é um vilão — nem um herói. Ele é uma fonte relevante de cálcio, proteínas e vitaminas como B2 e B12. Para quem tolera bem, pode fazer parte de uma dieta equilibrada. Mas também não é insubstituível: uma alimentação planejada pode suprir esses nutrientes de outras formas.
Em resumo, a relação entre leite e saúde é pessoal. A frase “leite inflama o corpo” é uma simplificação enganosa. Avaliar o consumo desse alimento deve levar em conta a individualidade biológica e o contexto de saúde de cada pessoa — e não apenas memes ou modismos da internet.
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