O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, criticou a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 635, em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF), também conhecida como “ADPF das Favelas”. Por meio das redes sociais, nesta quinta-feira (22/05), Caiado afirmou que a norma tem prejudicado operações policiais, como a que tenta capturar um traficante goiano foragido no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.
“A Polícia Civil de Goiás prendeu uma quadrilha de traficantes responsável por cinco dos treze assassinatos registrados na cidade de Trindade, no último ano. Mas o líder do grupo fugiu para o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e está protegido por uma facção criminosa aliada. Nossa polícia está de mãos atadas por causa dessa ADPF 635, que impede a polícia de entrar nas favelas. Os bandidos estão em uma zona de livre mercado pra poder circular sem ninguém incomodar”, afirmou Caiado.
A declaração foi feita após a deflagração da Operação Hidra, conduzida pelo Grupo de Repressão a Narcóticos (Genarc) de Trindade – 16ª Delegacia Regional de Polícia (DRP) –, que prendeu 19 suspeitos de tráfico de drogas. As investigações revelam que o grupo movimentou quase R$ 1 milhão em oito meses e é responsável por ao menos cinco homicídios em 2024.
Crime organizado
De acordo com o delegado Douglas Pedrosa, titular do Genarc, o líder da organização é Thiago Júlio Vitorino dos Santos, de 27 anos, conhecido como “Montanha”. Ele está escondido no Complexo do Alemão e conta com a proteção da facção Comando Vermelho. Apesar de já localizado, sua prisão esbarra nas restrições impostas pela decisão do STF.
“A favela carioca virou hotel para traficantes. Lá eles têm a proteção do Comando Vermelho e da geografia local. Infelizmente é uma situação com que a gente se deparou nesse caso, mas não foi a primeira. Temos, pelo menos, outros três traficantes escondidos no Rio de Janeiro, de onde eles executam suas ordens para matar, extorquir pai de família e traficar drogas”, lamenta Pedrosa. “É uma realidade triste saber que a Polícia Civil do Rio de Janeiro, mesmo querendo nos ajudar, não pode porque, simplesmente, tem o poder limitante do STF.”
Além disso, o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Ganga, destacou a atuação da corporação fora do estado. “Nós tivemos, em 2024, 151 operações fora do estado de Goiás na busca de criminosos que cometeram crimes aqui no solo goiano. Dessas 151 operações, 454 foram presos fora do estado de Goiás e somente no Rio de Janeiro foram 78 presos”.
ADPF nº 635
O Partido Socialista Brasileiro (PSB), sob liderança do então deputado federal Alessandro Molon, apresentou a ADPF nº 635 ao STF em 2019. A ADPF teve apoio de entidades de direitos humanos. A medida impõe limites a operações policiais em comunidades do Rio, como exigência de justificativa prévia, presença do Ministério Público, proibição do uso de helicópteros e obrigatoriedade de registro das ações.
Caiado criticou duramente a decisão. “Esse é o resultado que nós estamos assistindo neste momento da política de leniência e acovardamento do governo federal que, a cada dia, cede mais espaço para as facções criminosas em nosso país. E quem sofre é o povo de bem que só quer viver em paz, inclusive, quem vive nessas comunidades. Qualquer política de segurança precisa de respaldo dos governos para ser eficaz. E, se querem acabar com o crime organizado, tem que valer em todo o Brasil”, declarou.
A Polícia Civil informa que, além de Thiago, sua namorada e outro suspeito também são considerados foragidos. O grupo investigado atuava nos bairros Vida Nova e Residencial Santa Fé, em Trindade. Além do tráfico, o grupo era conhecido por ameaçar moradores e impor o medo à comunidade.
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