Algumas pessoas são incapazes de sentir dor — nem ao cortar o dedo, quebrar um osso ou encostar a mão em uma superfície escaldante. Trata-se de uma condição extremamente rara chamada analgesia congênita, um distúrbio genético que impede que o cérebro reconheça os sinais de dor, mesmo quando o corpo está claramente machucado.
A analgesia congênita é identificada, na maioria dos casos, ainda na infância, quando os pais percebem que a criança sofre lesões sem demonstrar qualquer incômodo. Embora possam sentir toque, calor e pressão, essas pessoas não têm a sensação de dor — o que representa um risco constante à saúde. Sem esse sinal de alerta natural do organismo, elas podem sofrer ferimentos graves sem perceber, agravando lesões que normalmente exigiriam atenção imediata.
A principal causa da condição está em mutações genéticas, especialmente no gene SCN9A, que interfere no funcionamento dos canais de sódio responsáveis pela condução do sinal de dor ao sistema nervoso. Apesar da gravidade dos riscos físicos, a síndrome não afeta a capacidade cognitiva dos portadores.
Ashlyn Blocker
Casos como o de Ashlyn Blocker, uma jovem americana com analgesia congênita, têm chamado a atenção da ciência. Ela se tornou objeto de estudo de pesquisadores que buscam entender melhor os mecanismos da dor e, a partir disso, desenvolver novos medicamentos para controle da dor crônica, um dos maiores desafios da medicina moderna.
Embora rara, a condição também tem uma face mais comum: há pessoas que, por lesões neurológicas, doenças como a hanseníase ou uso de determinados medicamentos, podem temporariamente perder a sensibilidade à dor. No entanto, esses casos são diferentes da forma congênita, que acompanha o indivíduo por toda a vida.
A ausência de dor pode parecer um superpoder à primeira vista, mas, na prática, é uma batalha constante pela sobrevivência. Isso porque a dor, por mais incômoda que seja, é um presente do corpo para nos proteger.
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